domingo, 27 de março de 2016

DOIS OLHARES - Vestígios do Acaso


A exposição individual simultânea com Ivone Beltran, Dois olhares, realizada na Galeria PontoArt em São Paulo, de 22 de outubro a 14 de novembro de 2015, contava com dezesseis pinturas em aquarela. A curadoria foi de Alexandre Lopes, cujo texto de apresentação está reproduzido abaixo.

A montagem





A abertura da exposição









































O texto do curador Alexandre Lopes
Vestígios do acaso

Estar diante de um trabalho do artista Cassiano Pereira Nunes é como ouvir um murmúrio vindo dos lábios do poeta Manuel de Barros nos dizendo: Eu queria fazer parte das árvores como os pássaros fazem...
Na sua mostra Vestígios do Acaso o artista compartilha com o público fragmentos de momentos colhidos durante os seus dias, encontros com a natureza seja aqui na cidade onde reside, São Paulo, ou pelo mundo afora.
As árvores surgem em seu repertório imagético em 2008, primeiro como uma fração das paisagens que representava em seus trabalhos, depois essas foram se tornando ao longo do tempo cada vez mais evidentes, até transformarem-se em personagens principais de sua obra, não apenas como um objeto, mas também sendo o motivo para expressão na criação de suas aquarelas.
O artista em suas andanças se depara e se detém diante da beleza, delicadeza, tenacidade e força das formas que encontra na natureza transportando-as para sua obra, orquestrando assim com as nuances cromáticas, as luzes, a água e os vapores que vão compondo suas árvores.
De uma paleta de cores refinada, matizes mais fechados com notas tonais que se aproximam do calor em alguns momentos, o artista parece nos oferecer uma gama de combinações afetivas.
Cassiano não opera apenas com aquilo que se materializa diante dos nossos olhos, afinal o olho vê o mundo em fluxo, e a obra de arte talvez seja uma tentativa de reter esse fluxo, de capturá-lo dentro de um espaço e devolvê-lo ao mundo com toda potencialidade emocional contida em si, como se houvesse um embate entre a realidade interior que luta para se concretizar na realidade exterior.
Leitor voraz de escritores como Lygia Fagundes Telles, Érico Veríssimo, o israelense Amós Oz, entre outros, assíduo expectador de cinema, apreciador de grandes diretores, Cassiano consegue trazer estas paixões e influências para suas aquarelas, por vezes se servindo da atmosfera impregnada nesses trabalhos para suas composições. Temas e personagens ecoam dessas linguagens como em A noite, titulo do filme de Michelangelo Antonioni que também nomeia mais de uma de suas obras presentes nessa mostra.
Diante das suas árvores o artista não apenas nos convida para um espetáculo a ser admirado, mas para uma experiência a ser vivida. Em consonância com a poesia de Keats sua arte reverbera e nos devolve a ideia do poeta romântico onde, Tudo o que é belo é uma alegria para sempre.

Alguns pinturas expostas

Cassiano Pereira Nunes
Ilha, 2013
aquarela s/ papel, 35 x 25 cm


Cassiano Pereira Nunes
Noite próxima, 2014
aquarela s/ papel, 45 x 38,2 cm


Cassiano Pereira Nunes
Rota da manhã, 2014
aquarela s/ papel, 44 x 34,5 cm


Cassiano Pereira Nunes
Praça VI, 2014
aquarela s/ papel, 36 x 36 cm


Cassiano Pereira Nunes
A noite III, 2014
aquarela s/ papel, 69 x 49,8 cm


Cassiano Pereira Nunes
Praça VIII, 2014
aquarela s/ papel, 37,3 x 49,9 cm


Cassiano Pereira Nunes
Adágio, 2015
aquarela s/ papel, 49,8 x 35 cm


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